O buquê aí de cima contraria o famigerado
clichê “do luxo ao lixo”. Na realidade, ele representa exatamente o oposto. É
parte de um conjunto de peças criadas a partir de resíduos para frequentar as
lojas mais badalas, como Daslu e Tok&Stok.
São bolsas, carteiras, itens de decoração, luminárias. Tudo feito com resto de
peixes. O couro e as escamas, antes descartados sem qualquer critério nos rios
e no mar, agora dão vida a objetos de design. Isso evita um prejuízo ambiental
enorme.
Quem vê de longe não diz que os objetos são
feitos com restos de peixes. A aparência das escamas lembra raspas de parafina.
O couro passaria fácil pelo de qualquer animal. Ao contrário de uma impressão
distante, as peças não cheiram a mercado de peixe. São limpas e inodoras. Não
precisa ter nojo.
Os produtos nascem das mãos de artesãs de
Recife, mulheres de pescadores da comunidade Brasília Teimosa. Há seis anos,
Camila Blanke, empresária e estilista, viu nos restos das toneladas de peixes
retiradas diariamente dos rios uma oportunidade de negócio. Pesquisou o
material, fez um arranjo com um curtume no interior de São Paulo e passou a
fabricar as primeiras peças de couro. “Fizemos alguns testes e descobrimos que
o couro do peixe é 88% mais resistente do que o do boi”, afirma Camila. Ela
abriu então aMar
e Arte, uma empresa que vende produtos “à base” de peixe.
O processo demorou um bocado. Afinal, a
transformação do couro de peixe in
natura em matéria-prima era uma novidade até para o curtume.
No meio do caminho, Camila descobriu que poderia usar também as escamas em suas
criações. Hoje seu ateliê produz, com a ajuda de 40 mulheres da comunidade,
mais de dez mil peças todo mês, entre os itens de couro e de escamas (são cem
modelos ao todo). “Nosso trabalhovai além de vender produtos.
Queremos educar a comunidade para acabar com a poluição dos rios”, diz Camila.
“Depois de uma série de palestras, folhetos distribuídos e ações de
conscientização, os próprios moradores se fiscalizam. A quantidade de lixo
jogada na água diminui muito.”
A Mar e Arte já ajudou a retirar toneladas
de lixo dos mares. Deu trabalho – e auto-estima – para as mulheres, que antes
ficavam restritas aos cuidados com os filhos e a casa. E levou uma nova matéria-prima às
prateleiras de lojas de grife. A Tok&Stok vende flores e aneis de
guardanapo da empresa. A Daslu, até pouco tempo, tinha uma bolsa
criada com exclusividade para sua marca. A Maria
Bonita Extra comprou o couro da companhia. E a Movimento, especializada em moda praia,
desfilou biquínis de couro de peixe no último São Paulo Fashion Week.
O sucesso da Mar e Arte é
tamanho que as peças se tornaram internacionais. Foram parar na Alemanha, em
Portugal, nos Estados Unidos e na França. Mas Camila quer mais. Está
desenvolvendo, junto com as mulheres da comunidade, novas linhas de
revestimento para a casa, móveis e sapatos. “Temos que dar lucro, né?”.
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